Entrevista: O mercado de TI é aberto para pessoas LGBTQIA+? Um homem trans dá a resposta

O mercado de Tecnologia da Informação é aberto para contratação de pessoas LGBTQIA+? A pergunta foi feita para o consultor da Century Data, Marcelo de Melo, homem trans que trabalha na empresa desde 2021.

Marcelo já foi entrevistado pelo blog nos últimos dias e conversou sobre o Zendesk, software que oferece diversos produtos, dentro da nuvem, com o objetivo de centralizar ferramentas de atendimento ao cliente com foco total em experiências personalizadas.

Agora, o consultor vai responder nossas perguntas sobre sexualidade e mercado de trabalho na área de TI. Vale a pena a leitura.

Century Data: Marcelo, você é um homem trans que trabalha na área de Tecnologia da Informação. Como a TI entrou na sua vida

e quais os desafios você enfrentou no início da carreira?

Marcelo: Eu sou uma pessoa trans desde 2015. No início do meu processo de transição eu já percebia alguns empecilhos no mercado de trabalho fora da área de Tecnologia da Informação (TI). 

Eu sou formado em Direito e quando eu ainda fazia faculdade era muito difícil conseguir estágio. A verdade é que o começo de uma transição é muito complicado porque a sociedade é bastante visual. Se a sociedade me lê como um homem, ela me entende como homem e as coisas ficam mais fáceis. Mas, se a sociedade me lê com certa dúvida, sem entender o que eu sou, os preconceitos são maiores e as respostas são mais negativas. Agora, imagina tudo isso há sete anos quando ainda tínhamos pouquíssimas informações sobre pessoas trans.

Mas, ainda naquela época, eu fui aprovado para um estágio generalista, fora da área do Direito. Foi então que eu tive contato com pessoas de TI e percebi que para essas pessoas pouco importava quem eu era em questões de sexualidade. O que importava de fato era o quanto eu estava aberto para aprender, o quanto eu estava disposto para mergulhar em projetos e fazer a TI acontecer. 

Century Data: Então, você acha que a área de TI abraça a diversidade? 

Marcelo: Sim, eu vejo a área de TI como um grande nicho para pessoas LGBTQIA+. Podemos fazer uma pesquisa rápida no LinkedIn por pessoas trans para constatar quantas conseguiram recolocação no mercado de trabalho dentro da área de TI nos últimos anos. Então, eu vejo a TI como uma área que não impõe barreiras para contratação, mas uma área que oferece soluções, que valoriza bem mais o profissional e seus conhecimentos do que aquilo que ele expressa na vida pessoal e sexual.

Century Data: Essa percepção mais clara sobre o mercado de trabalho é recente? 

Marcelo: Particularmente, eu tenho essa percepção desde 2020. Fatores como aumento da procura por profissionais da área, iniciativas de capacitação gratuitas para a população LGBTQIA+ e facilitadores de vagas, como o TransEmpregos, idealizado pela Maite Schneider, têm feito com que a área de TI se torne uma verdadeira amiga da diversidade. 

É muito bom ver pessoas trans, colegas de profissão, encontrando recolocações dignas e sólidas, desenvolvendo suas carreiras com crescimento notável e, principalmente, fazendo parte de ambientes seguros.

Century Data: E especificamente sobre a Century Data, como é a cultura organizacional da empresa com relação ao tema?

Marcelo: Sou suspeito para responder a essa pergunta! Quando eu falo sobre a Century, falo também de uma família que abraça quem somos em todos os aspectos da vida e, principalmente, quem nós queremos ser. Na Century, desde a primeira conversa sobre a vaga que me foi oferecida em 2021 senti que estava em um ambiente acolhedor e seguro. 

Enfrentei, por exemplo, alguns problemas com documentos diante da alteração do meu nome ter ocorrido próximo à minha contratação. Para a minha surpresa, encontrei o Eduardo, sócio da Century, muito disposto a solucionar os impasses comigo. Ele me auxiliou com muito carinho e atenção. E posso dizer que isso se estende até hoje. Sempre tenho absoluta certeza que, independente do que aconteça, poderei contar com meus parceiros da Century.

Por fim, hoje posso dizer que trabalho em uma empresa inclusiva que preza pela qualidade dos serviços prestados independentemente do gênero, sexo, orientação, idade entre tantas outras variações que surgem por aí.